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Poço Artesiano no Aquifero Guarani em Santa Catarina

Foto do escritor: Eduardo Gabriel De Pauli BaptistaEduardo Gabriel De Pauli Baptista

A importância da utilização do Aqüífero Guarani no abastecimento público reside,

principalmente, nos aspectos de praticidade, em função se sua ocorrência no subsolo das principais cidades de médio porte do meio-oeste e oeste catarinense, bem como, pelo aspecto econômico, como ficou demonstrado através de análise comparativa de custos com relação ao abastecimento através da captação e tratamento de águas superficiais.


No Estado de Santa Catarina o sistema Aqüífero Guarani surge como uma importante alternativa de abastecimento público, especialmente nas cidades de médio porte do meio-oeste e oeste catarinense. Formado pelos arenitos das formações Botucatu e Pirambóia, distribui-se numa área de aproximadamente 49.200 Km² e encontra-se recoberto, em quase toda sua extensão, por rochas da Formação Serra Geral, o que o torna pouco vulnerável à contaminação.



LOCALIZAÇÃO DA ÁREA

A área objetivo deste estudo abrange todo o meio-oeste e oeste de Santa Catarina, conforme mostra figura abaixo.




HISTÓRICO

Desde o final da década de 1950 até a de 1970, a Petrobrás desenvolveu investigações

geológicas na Bacia do Paraná, com o objetivo de definir seu potencial para produção de petróleo, contribuindo, dessa forma, para o conhecimento das formações Botucatu e Pirambóia. Dessa época são os poços de Piratuba, Marcelino Ramos (RS) e Erval do Oeste, entre outros.


Em 1978 foi perfurado pela CPRM o poço de Concórdia , com a finalidade de abastecimento industrial, para a Sadia, indústria de suinicultura.


A primeira tentativa de exploração do Aqüífero Guarani, através de poços de grande

profundidade, ocorreu em 1980, com a finalidade de abastecer o município de São Miguel do Oeste. Como a construção do poço não obteve sucesso, o projeto foi abandonado. Hoje está havendo esta tentativa de retorno das pesquisas .


Posteriormente, em 1982, novas pesquisas foram feitas na Bacia do Paraná, em território

catarinense, na cidade de Seara, através da Paulipetro. Como o objetivo das pesquisa foi petróleo e gás, as camadas das Formações Botucatu e Pirambóia foram isoladas não permitindo uma avaliação detalhada do Aqüífero.


Na década de 90 foram perfurados mais quatro poços profundos para uso de balneário em

municípios do oeste catarinense.


O Governo do Estado, através da CASAN, está desenvolvendo estudos de viabilidade

econômica para o aproveitamento deste importante recurso hídrico nas cidades de Caçador, Fraiburgo, Videira, Xanxere e São Miguel do Oeste o Estado. Com certeza, será um grande passo para o desenvolvimento destes municípios.



HIDROGEOLOGIA


Aqüífero Guarani

O termo Aqüífero Guarani é a denominação dada ao sistema hidroestratigráfico Mesozóico,

constituído por sedimentos flúvio-lacustres de idade Triássica ( Formação Pirambóia ) e por

depósitos de origem eólica de idade jurássica ( Formação Botucatu). O termo Aqüífero Guarani é a denominação formal dada ao reservatório de água subterrânea doce, pelo geólogo uruguaio Danilo Anton em homenagem à nação Guarani que habitava essa região nos primórdios do período colonial. Vale salientar que este sistema aqüífero foi primeiramente denominado de Aqüífero Gigante do Mercosul (ARAUJO et al, 1995), por ocorrer nos quatro países participantes do referido acordo comercial, Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina.


O conhecimento hidrogeológico deste aqüífero é muito incipiente e irregular, existindo áreas razoavelmente bem conhecidas, como nos estados de São Paulo e Paraná, contrastando quase ausência de informações em sua borda ocidental.


As condições hidráulicas variam espacialmente. Os estratos jurássicos são, em geral,

pobremente cimentados, apresentando porosidade média de 17% e condutividade hidráulica da ordem de 0,2 a 4,6m/dia (ARAUJO et al, op.cit.), com boa maturidade textural e arcabouço constituído por grãos de quartzo bem arredondados e bem selecionados. Os depósitos flúviolacustres do Triássico, de um modo geral, apresentam menor maturidade textural e maior quantidade de argila, com porosidade média de 16% e condutividade hidráulica muito variável inferior a 0,01 a 4,6m/dia (ARAUJO et al, op. cit.).


O Sistema Aqüífero Guarani está saturado por água doce de boa potabilidade. Localmente

pode ocorrer alteração na potabilidade, basicamente, devido ao aumento da salinidade e/ou do conteúdo de flúor. Em sua maior extensão está confinado, no topo, pelos derrames básicos da Formação Serra geral (Cretáceo) e na base, pelos sedimentos pouco permeáveis do Grupo Passa Dois, de idade permo-triássica.


O sentido principal de fluxo das águas subterrâneas no Estado de Santa Catarina , é de este para oeste e de nordeste para sudoeste(E-W e NE-SW), como pode ser comprovado pelos perfis 1, 2 e 3. No sul do estado o fluxo das águas subterrâneas se dá em direção ao oceano Atlântico.


A temperatura das águas tende a aumentar, gradativamente, das áreas de recarga em direção à calha da bacia, em função do grau geotérmico natural, aproximadamente de 1°C/35m. Medidas de temperatura em áreas aflorantes indicam valores em torno de 22°C, aumentando em direção ao oeste catarinense, onde pode ultrapassar os 48°C, em áreas confinadas.


As surgências de águas termo-minerais que ocorrem próximo ao rio Uruguai, em áreas de

afloramento de rochas vulcânicas da Formação Serra Geral situam-se em cotas inferiores a 400m, evidenciam áreas de descarga do Guarani. Por outro lado, em algumas áreas na região oeste, próximo ao rio Uruguai podem sofrer interferência de águas provenientes do Aqüífero Serra Geral devido a infiltração através das fraturas, como acontece com o poço de Itá, onde a temperatura não chega a 30°C.


A recarga natural deste aqüífero ocorre segundo dois mecanismos: por meio de infiltração das águas de chuva nas áreas de afloramentos e, de forma retardada, em parte da área de confinamento, por filtração vertical ( drenança), ao longo de descontinuidades das rochas do pacote confinante.


Os principais fatores de risco, que podem comprometer a qualidade das águas subterrâneas são a ocupação desordenada das áreas de recarga, através da utilização indiscriminada de defensivos agrícolas e efluentes industriais, além do grande número de poços rasos e profundos que são construídos, operados e abandonados sem tecnologia adequada, conseqüência da falta de controle e fiscalização, resultante da ausência de legislação estadual. Nesse quadro, a poluição dos aqüíferos superiores, poderá contaminar a água que é extraída dos poços profundos que captam do Aqüífero Guarani, até mesmo quando estão localizados nos seus setores confinados.



Aqüífero Serra Geral

A Formação Serra Geral, é constituída essencialmente por uma seqüência vulcânica básica predominante, representada por basaltos e andesitos, de coloração que vai de cinza escuro ao negro; seqüência intermediária e seqüência ácida .


Os sucessivos derrames básicos mostram um característico zoneamento. A partir da base para o topo ocorrem as seguintes zonas: zona vítrea, zona de fraturamento horizontal, zona de fraturamento vertical e zona amigdalóide.


A seqüência intermediária ocorre na região centro-oeste nas proximidades de chapecó, Irani e Vargeão. São classificados como Traquiandesitos porfiríticos de cinza-castanhos.

A seqüência ácida está representada por riolitos, riodacitos, de coloração cinza variando os tons desde claros, até acastanhados.


A Formação Serra Geral forma uma unidade aqüífera constituída por camadas com

porosidade predominantemente secundária (por fraturamento), sobrepostas ao Aqüífero Guarani. Constitui uma grande alternativa para abastecimento de cidades de pequeno porte no meio-oeste e oeste de Santa Catarina. Os poços nessa formação são de vazões variáveis, podendo chegar, localmente, a mais de 100 m³/h. Normalmente os poços são perfurados até uma profundidade de 200m, no máximo.



LOCALIZAÇÃO DOS POÇOS PERFURADOS







Esboço Hidrogeológico do Estado do Paraná


CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS REGIONAIS

Existem variações consideráveis com relação a geometria do Aqüífero Guarani, como pode

ser observado nos perfis abaixo (perfil 1, perfil 2 e perfil 3) onde as espessuras tanto da Formação Serra Geral como do Aqüífero Guarani são bastante variáveis. Em alguns locais houve supressão das Formações Botucatu e Pirambóia, como é o caso do poço de Treze Tílias e São João do Oeste. Em muitos poços a perfuração não atravessou totalmente o Aqüífero Guarani, como os poços de Monte Alegre, São Cristóvão do Sul, Curitibanos e Timbó Grande, onde estima-se uma profundidade muito maior. Na região da cidade de Vargeão, oeste do Estado, existe uma janela estratigráfica onde ocorrem afloramentos das formações que formam o Guarani, estrutura conhecida como Domo de Vargeão.



Dados geométricos dos Poços Perfurados.



CARACTERÍSTICAS HIDROQUÍMICAS

A qualidade da água, regra geral adequada para o consumo humano, o fato do aqüífero

apresentar boa proteção contra os agentes de poluição que afetam rapidamente as mananciais de água superficiais, aliado ao fato de haver uma possibilidade de captação nos locais onde ocorrem as demandas, e serem grandes as suas reservas de água, conferem ao Aqüífero Guarani um importante papel para o desenvolvimento econômico e social do Estado.


Constatou-se um aumento da condutividade específica em direção ao oeste, isto é, em direção ao centro da bacia, onde o grau de confinamento aumenta. O pH está entre 6 e 8 (pouco ácidas a levemente alcalinas) . Em profundidades maiores as águas tornam-se alcalinas. Nas áreas onde ocorre a pouca profundidade a salinidade apresenta-se baixa. Nas porções onde a profundidade é maior, a salinidade traduzida em termos de sólidos totais dissolvidos é alta, chegando a valores em torno de 800 mg/L. Mesmo assim, a maioria das amostras está dentro do padrão de potabilidade pela Portaria 1469. Todas as amostras apresentaram flúor, valor que não ultrapassou a 0,8mg/L, dentro do padrão de potabilidade.


Em geral, as águas deste aqüífero são bicarbonatas cloretadas sódicas ou bicarbonatadas

cloretadas sulfatadas sódicas.



USO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA DO GUARANI EM SC

O uso do Guarani pode ser dividido em quatro categorias – urbano, rural, industrial e lazer.

Abastecimento Urbano- O Guarani surge como uma grande alternativa de abastecimento urbano nos municípios do meio-oeste e oeste catarinense, onde o comprometimento das águas superficiais atingem índices bastante elevados, devido a série de agentes contaminantes, como esgotos urbanos, dejetos de usos suínos, resíduos de mineração, efluentes industriais, agrotóxicos, etc.


  • Abastecimento Rural- Considerando a vocação agropecuária do oeste catarinense o seu uso é importante para a irrigação das culturas, dessedentação de animais, combate à geada.

  • Industrial – Dentre as diversas modalidades de uso do Guarani nesta modalidade de consumo, destaca-se o aproveitamento de sua energia geotérmica, com as mais diversas finalidades: secagem e armazenamento de grãos, secagem de madeiras, evisceração e limpeza de aves. Uma possível aplicação destas águas de baixa entalpia, descrita por Hamza et al. (1978), é a produção de metano a partir de resíduos orgânicos líquidos e sólidos. Neste processo, a produção do metano é intermediada por bactérias, que necessitam a manutenção de temperaturas na faixa de 30 a 50°C. Uma área potencial para implementar este aproveitamento é o oeste catarinense, onde a criação de aves e suínos produz grande quantidade de rejeitos orgânicos (Chang, 2001). Naturalmente , este processo pode ser aplicado em uma região do estado em que a temperatura é superior a 38°C, nas imediações do vale do rio do Peixe até a divisa com a Argentina.

  • Turismo e lazer – As águas do aqüífero Guarani quando usadas para balneário podem ser classificadas como bicarbonatadas alcalinas cloro-sulfatadas, para fins terapêuticos, com termalismo acima de 30°C, apresentando condições ideais para exploração de águas termais. Este segmento está em crescimento, pois vários municípios tem procurado viabilizar a perfuração de poços no Guarani. Atualmente poucos estabelecimentos, de caráter privado e municipal. (Companhia Hidromineral de Piratuba, localizado no município de Piratuba, Companhia Hidromineral do Oeste – Hidroeste, em Águas de Chapecó, Companhia Mineral de Ilha Redonda, em Palmitos, Companhia Hidromineral de Águas da Prata, em São Carlos, Termas de Chapecó, em Chapecó) todas usam o potencial do aqüífero Guarani.


SOLUÇÕES PARA ABASTECIMENTO PÚBLICO

Como o crescimento urbano e industrial tende a esgotar e comprometer os recursos hídricos superficiais, torna-se ainda mais grave com a degradação ambiental, comprometendo os reservatórios de águas superficiais, provocando os inconvenientes racionamentos de água e prejudicando todo o desenvolvimento de uma região, como aconteceu em janeiro de 2002, com a grande estiagem no oeste e meio oeste catarinense.


Pelo menos cinco cidades de médio porte no Estado estão necessitando de investimentos para melhoria dos sistemas de abastecimento de água e podem ser beneficiadas com a perfuração de poços para captação de água no Guarani: Caçador, Fraiburgo, Videira, Xanxerê e São Miguel do Oeste.


A exploração de aqüífero Guarani surge como uma alternativa bastante atraente, tanto do

ponto de vista de qualidade, como também do ponto de vista econômico, pela redução dos custos de exploração e produção serem atrativos em relação aos sistemas convencionais.


Estimativa feita para os projetos dos poços para captação de água no Guarani:

LOCALIDADE

PROFUNDIDADE ESTIMADA

Caçador

750

Videira

850

Fraiburgo

700

Xanxerê

670

São Miguel do Oeste

1400




Referência Bibliográfica

Lauro César Zanatta1 & João Batista Lins Coitinho2, UTILIZAÇÃO DE POÇOS PROFUNDOS NO AQÜÍFERO GUARANI PARA ABASTECIMENTO PÚBLICO EM SANTA CATARINA, XII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas.


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